Ir al contenido principal

QUEM É QUE CUSPIU NA SUA CABEÇA?

             QUEM É QUE CUSPIU NA SUA CABEÇA?

                        Kitalecy: Mona Nkisi 
Pan-africanista e pesquisador das Línguas Africanas em suas influências para 
o português brasileiro. Graduado em Letras pela Universidade Federal de Lavras. 


Uhuru Afrika tv: 

Tudo em mim e tudo em minha vida sempre seguiu os passos de quem antes veio para que hoje eu fosse: mesmo sem saber (e ver) fui guiado por mãos, pés e ventres pretos a caminhos nunca imaginados de percorrer. Com isso quero dizer que, o que determinará a nossa jornada em busca da glória de nosso povo enquanto africanos, em diáspora ou em continente, é se anteriormente pudermos nos colocar em silêncio para ser escuta das vozes ancestrais: pois é o resultado dessa escuta que possibilitará ser a nossa fala uma potência e(m) ação, o nosso sonho a resultado de uma realidade, e nosso porvir a encruzilhada da nossa existência. Makota Valdina diz-nos que para as cosmologias dos povos Bantu, “quando a gente fala, fala o que antes foi pensado e alguém ouve ainda que a gente não veja (...)”, pois “a palavra é algo muito importante, seja ela dita, rezada ou cantada”.  Passemos a encarar o fato de que somos decorrência de palavras e corpos a pungir na frequência de uma continuidade em encruzilhada que não tem fim, em que para que voltemos a ser o que (nunca) deixamos de ser, é preciso redirecionarmos a elas: que nos geram e geram verbos, corpos, encontros, tempos e energias. 

Para que essas vozes continuem a nos indicar para onde ir, ao passo que nos faz ser o próprio caminho da redenção, tenho a palavra como semente que brota, germina e da o de comer. Assumo, por isso, a palavra como o principal fundamento, fundamento que assenta em nós o sofro, o nome, o ser e estar e a humanidade. Bem, quando penso “quem é a fonte que fundamenta a minha palavra-ação”, logo me vem o Candomblé – aldeia Africana em toda a sua estrutura – que me faz ser silêncio para que todos os dias (em humildade) eu escute as vozes que Makota Valdina sabiamente indicou que a todo instante nos circunscreve. E assim, será com os nossos, em estado de Quilombismo, África em diáspora, que iremos/precisaremos reaprendender a andar: a partir dos esteios que nos legam a pisa firma para que não caiamos mais. E é isso que acredito que Abdias também nos disse quando propôs a leitura e a construção de um Estado Quilombista, chamando a atenção, sobretudo, para o lócus de onde é que vamos tirar o nosso fundamento para sermos, refazermos e empreitarmos as diretrizes de nossas vidas. 

Com isso, convido, a todos a nós, nos perguntarmos quais são os fundamentos e quais são as vozes (os exemplos) que tomamos para nós nas aplicações políticas-ideológicas na construção de nossas organizações. Digo isso, pois é um erro insistirmos em construções políticas se essas estiverem distantes dos verbos de nossos Kota, de nossas crianças e de nossos caminhos e espaços de potência. A minha pretensão com este meu primeiro texto para a Revista é um convite para que voltemos para as nossas casas, aos pés de nossas/os velhas/os, pois é preciso entender que é lá que vamos de fato propor revolução em chão firme preparado muito antes de termos pés para pisarmos. O convite para a reflexão parte por isso da urgência, aqui no Brasil, de que nosso povo esteja novamente em massa se organizando e sendo organizado pelo único esteio capaz de encarrilhar novamente a nossa existência, que são as nossas Casas de Axé. Integro ser de Axé a possibilidade da restituição e da proposição mais firme de organizações, em que essas serão centradas e alimentadas especificamente em terra e lama viva: mutoto onde pisamos certos de que cada passo é guiado e orientado por quem veio antes. 

A régua e o compasso já foram dados, passemos a entender, portanto, a palavra como fundamento no sentido de comprometimento e continuidade, compreendida em toda a sua complexidade na semântica a qual os Candomblés, os Quilombos e toda e qualquer organização africana, rente a centralidade de nossa existência, nos lega. Que novamente nos coloquemos assentados nesses ibás de nossa história (convite desta reflexão), nos propondo a escutar os mais velhos para que as frequências que nos colocarmos a assoprar não estejam desafixadas de um comportamento sagrado e espiritual, comprometida com e pela nossa raça e respaldada em construções milenares que sempre deram certo. É isso que é ser quilombista, um pan-africano. É preciso que façamos valer dessas vozes e espaços, que em essência nos forma, organiza e fortalece, para que não caiamos em contradição nos recolonizando em falsas promessas ocidentais. Ter fundamento na fala e no ato é, portanto, ter pés, mãos e cabeças depositadas em um todo espiritual que forma e que nos mostra o caminho e que ao mesmo Tempo é a Cura do caminhar (é o que é Njila, a Cura do Caminho).  E é nessa composição que convido-os a(re) pensar as nossas organizações:

Escutemos os nossos mais velhos, escutemos e sintamos as frequências de nossos Nganga tocando em nossa Muxima. Sejamos gratos pelos Axés-verbais que fazem passado presente, presente passado, futuro o agora, e todos esses Tempos serem um só. Não adianta empreitarmos lutas, se espiritualmente estivermos fracos de fundamento. Empoderamento é poder ser Kânda e com ela ser Muthu, filho de Nzambi, para nunca mais ser um qualquer escravizado. A partir de que lugar você se forma, fortalece e se frequência?




Comentarios

Entradas populares de este blog

LAS DIFERENTES POSTURAS SOBRE LA INDEPENDENCIA Y SEPARACIÓN DE GUINEA ECUATORIAL 1966

Texto editado por: Esasom Mba Bikie Nosotros el pueblo de Guinea Ecuatorial, no consideramos nuestro país pequeño, por eso decimos GRAN PAÍS. Aunque solo hubiera un hombre y una mujer en este país, para nosotros es EL GRAN PAÍS,  DEL GRAN PUEBLO DE LA GUINEA ECUATORIAL. Los guineanos aunque estemos solos, decimos que somos grandes. Por Francisco Macias Nguema Biyogo    VIERNES DÍA 19 DE AGOSTO DE 1966 Don ENRIQUE GORI MOLUBELA (Postura del Presidente de la Asamblea ante la INDEPENDENCIA DE Guinea Ecuatorial) Don Enrique Gori Molubela El 19 de agosto de 1966, día de su llegada, el Subcomité hizo una visita al Presidente de la Asamblea General, Don Enrique Gori Molubela. Asistieron a la reunión algunos otros miembros de la Asamblea. En una declaración de bienvenida, el Sr. Gori Molubela informó al Subcomité de que la totalidad del pueblo de Guinea Ecuatorial deseaba que el Territorio obtuviese la independencia. El problema residía en cómo y cuándo. Por su parte, el Sr. Gori Molub

Acto 32º Aniversario de la Fundacion del Movimiento Panafricanista de España 1986-2016

32º Aniversario de la Fundación del Movimiento Panafricanista de España 1986-2017 PREFACIO Acabar con el Mto. negro -cimarrón - ha sido un objetivo de todos los gobiernos anteriores y posteriores a la democracia en España. Sin embargo, tras 40 años  el MPE,  es hoy la única organización Negra activa en España, nacida en Madrid durante la transición. La verdadera razón de que el Mto. Negro siga  subsistiendo, no esta en su gran cobertura social, sino en su estrategia política, con sus raíces en la experiencia afro de los 70-80.   El  Movimiento-Panafricanista es un espacio  político sociocultural cuya filosofía  se dedica a la búsqueda de la agencia africana-en todas las áreas y sectores de la sociedad. E termino panafricanista   se usa para hacer referencia a los partidos u organizaciones de ideología nacionalista revolucionario negra de la línea garveyistas y afrocentrada, que a su vez son de cimarrones o revolucionarios, sea en forma de comunismo, socialismo o socia

Editorial Dime como hablas y te diré quien eres, qué defiendes y a quien representas. Síntesis del revisionismo lingüístico de la élite negra Mbolo Etofili

  Crisis de la élite negra # 34 Editorial    Dime como hablas y te diré quien eres, qué defiendes y a quien representas.                              Síntesis del  revisionismo lingüístico de la élite negra                          Mbolo Etofili "La negra Mati llegó de "United States" con su vídeo cómico con mucha dinga y mandinga de la nación puertorriqueña y valor educativo para las víctimas del profundo complejo de inferioridad lingüística. ️ L as tendencias hegemónicas de la modernidad llevan a las elites negras del mundo  contemporáneo a homologar un lenguaje falso y falseado con el que en ultima instancia pretenden someter el Garveyismo. Es un lenguaje por tanto una lógica profundamente colonial que les aleja del palenque, de Haití y por tanto de Africa. Fanon fue muy claro en esto. Solo venceremos si identificamos estos discursos que pretenden imponerse en nuestras familias y comunidades negras.   Solo venceremos esta batalla de las ideas por la narrativa, reinte