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Abidias eo panafricanismo

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ABIDIAS E O PANAFRICANISMO

Monasoma

      Abdias do Nascimento em seus escritos no livro Quilombismo relata que seu primeiro testemunho ocular de uma ação panafricanista foi na infância. Ao ver uma criança preta ser espancada por uma mulher branca, sua mãe, a sempre tranquila D. Georgina "entrou em luta corporal e arrancou Felisbino das mãos da vizinha" dando a seu filho O primeiro exemplo de solidariedade racial. O menino Abdias tornou-se o grande homem que levou ao mundo reflexões necessárias sobre a situação do povo preto no Brasil.
       Ações orgânicas de proteção coletiva são a essência do nosso ser político. Numa realidade  de fragilização de nossos corpos através da violência, as medidas protetivas autônomas são verdadeiras expressões de nossa capacidade de organização e auto agenciamento. Quero ser Abdias e quero ser Georgina! Nossas crianças precisam encontrar em nós manifestações vivas de nossos ancestrais na consolidação da transferência de saberes apoiados em nossas práticas políticas. Apoie, organize, defenda, levante-se. Seja e construa hoje a referência para as próximas gerações.
      A partir da observação dos registros históricos de resistência, podemos consolidar nossa certeza do não comodismo de nossos antepassados e resgatar como herança a disposição política para exaltação de nossa libertação como ato cultural, assim como disse Amílcar Cabral. Surge como provocação à juventude africana ao redor do mundo a questão: qual tem sido a nossa contribuição prática para a preservação de referências e estabelecimento de marcos reflexivos para as próximas gerações?
        A atualidade exige de nós que sejamos preparados para assumir lugares de liderança. Conscientes deste papel importante é primordial que busquemos mentores entre nossos mais velhos para a transmissão de padrões sociais, assim como também para a transferência de nossas tarefas políticas que são históricas. ao longo dos tempos fomos submetidos a níveis tão absolutos de aculturamento que tais objetivos se apresentam como desafios que apenas podem ser alcançados com postura radical de reconstruir nossos espaços de fazer cultural e garantir a reterritorialização de nossos filhos para então preencher os corpos vazios de orgulho e dignidade africanos, como nos ensinou Steve Biko.
        Assuma agora seu lugar honroso nos registros de nosso fazer laboral. Não se prive da responsabilidade e compromisso de construir novas referências para as próximas gerações de africanos nascidos no continente e na diáspora. A reconstrução de nosso equilíbrio psíquico, personalidade e rituais depende de nosso envolvimento efetivo com o levante de nossa raça poderosa.

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